sábado, 31 de julho de 2010

Ao encontro dos vinhos de Portugal





Percorrer as herdades do país, participar nas vindimas, provar tintos e brancos ou visitar caves é cada vez mais uma opção para muitos turistas que procuram formas diferentes de passar o dia. O enoturismo chegou para ficar, ainda para mais num país como o nosso, onde o vinho é rei. E a prová-lo estão as muitas adegas e herdades, de norte a sul de Portugal, que permitem ao visitante ficar a par das actividades diárias implicadas na produção vitivinícola. Ambitur falou com algumas delas e ficou a saber o que oferecem aos turistas.
Considerado desde sempre como a mais nobre das bebidas, o vinho continua hoje a ter um papel fundamental na história e “à mesa” de Portugal. E mais recentemente foi a actividade turística que se aproveitou deste produto e que lhe deu outra função: a de entreter os turistas exigentes que procuram maneiras diferentes de passar o dia. Assim nasce o Enoturismo, uma actividade que ganha cada vez mais adeptos pelo país fora e que procura diversificar-se a cada dia que passa. São muitas as herdades produtoras de vinhos que decidiram apostar nesta vertente como forma de aumentar as suas receitas e de dar a conhecer os seus produtos e métodos de trabalho.

Herdade do Esporão

Para a Herdade do Esporão, situada em Reguengos de Monsaraz (Alentejo), o Enoturismo “é um instrumento de marketing, integrado no plano de marketing estratégico da Finagra, com o objectivo de fidelizar o visitante à marca Esporão”, refere Ricardo Gomes, responsável desta herdade. Aliás para o visitante este é muitas vezes o primeiro contacto que tem com a marca. E para isso, a Herdade do Esporão dispõe de um conjunto de serviços e programas em torno dos vinhos, gastronomia, cultura e história.

Recebendo em média cerca de 20 mil visitantes anuais, esta herdade tem assistido a um aumento dos pequenos grupos e de individuais em detrimento dos grandes grupos. A maioria dos visitantes tem interesses vínicos, gastronómicos e culturais, e tem ao seu dispor cursos e minicursos, degustação de ementas vínicas, possibilidade de consumir os vinhos da herdade no restaurante e de visitar a adega e o centro histórico. O mercado português é o principal “consumidor” (70%), sobretudo oriundo dos principais centros urbanos, com Lisboa a destacar-se. Os
Herdade do Meio
restantes visitantes vêm da Europa do Norte, EUA, Brasil, Canadá e Espanha.

Quanto a retorno, Ricardo Gomes refere que para um grande produtor esta aposta no Enoturismo não se mede apenas no volume de facturação. “O maior retorno reside nas vantagens não quantificáveis (notoriedade, qualidade, promoção, educação, vanguarda, inovação e sofisticação) que se traduzem em posteriores vendas e consumos. Neste sentido poderemos dizer que não só o retorno foi atingido com foi suplantado”, sublinha.

Na Herdade dos Grous, no baixo Alentejo, mais concretamente em Albernôa (Beja), foi construído um espaço a pensar no Enoturismo, de arquitectura regional e integrado na paisagem envolvente, que permite aos visitantes provar e adquirir tudo o que a herdade produz e visitar as condições onde os vinhos são elaborados e estagiados. Além disso, segundo Marita Barth, responsável da Herdade dos Grous, os turistas podem ainda conhecer de perto os animais deste espaço e passear de tractor pela exploração agrícola onde verá as vacas certificadas de raça alentejana e as ovelhas merino. Pode ainda montar e fazer passeios a cavalo pela vinha.


Adega de Cantanhede
Na Adega de Cantanhede desde há muito que se sente a preocupação em criar espaços virados para o Enoturismo, como é o caso do salão polivalente para eventos com capacidade para 400 pessoas, do Museu do Vinho, da Sala de Provas, da Loja de Vinhos e de uma cave destinada a visitas. Actualmente, de acordo com Vítor Almeida, representante da adega, o espaço recebe, isoladamente, turistas que aparecem nas instalações, bem como grupos de turistas com marcação prévia, por informação e acompanhamento dos postos de turismo e das agências de viagens. Mas adianta que um dos objectivos é avançar com um plano alargado ao Enoturismo, um projecto que se encontra ainda em fase embrionária.

Novamente no Alentejo, em Portel, a Herdade do Meio procura mostrar como se produz um dos produtos mais conhecidos e distintos desta região portuguesa, um seu embaixador aliás, o vinho. Assim, “toda a adega foi construída a pensar no Enoturismo e na organização de eventos”, explica Helena Dionísio, export manager da herdade. As visitas estendem-se durante todo o ano, sendo sobretudo nacionais mas também internacionais, de turistas que estão de visita ao Alentejo. Claro que o Verão e a época da Vindima assistem a uma maior afluência.

Herdade do Esporão
Vinhos e vinhas do Alentejo

Inserida na Rota dos Vinhos do Alentejo, a Herdade do Esporão lançou o seu primeiro vinho Esporão em 1989 e, três anos depois, lança os vinhos Monte Velho. Em 1995, com a plantação de uma nova área de vinha e a renovação da existente, novos investimentos são feitos, instalando-se um sistema de rega gota-a-gota em toda a vinha e construindo-se uma barragem com 100 hectares de água submersa. Entre as apostas mais recentes estão a compra da Herdade dos Perdigões, com 190 Ha de vinha, a construção da Casa do Enoturismo, a expansão da adega e aquisição de um lagar moderno para a produção dos azeites virgens. Actualmente a capacidade da adega é de oito mil toneladas e as vinhas estendem-se ao longo de 600 Ha, subdidividas em Esporão, Perdigões, Rusga, Palmeiras e Monte.

A Casa do Enoturismo, integrada na Rota Mundial dos Vinhos, está ligada à adega através de um túnel e oferece aos visitantes uma vista deslumbrante sobre a barragem da herdade. Como propostas os turistas tem à sua disposição karts todo-o-terreno, um passeio de dirigível, team building e passeios de jipe. Pode ainda passar pelo bar e provar os vinhos ou visitar a Torre e o Museu
Herdade dos Grous
Arqueológico, onde assistirá a uma apresentação de um módulo sobre a componente histórica e vinha. Outra opção facultada pela Herdade do Esporão são os Cursos de Vinhos, com o formado José Carlos Santanita, que ensina a identificar os aromas no vinho, a sentir e a provar o vinho, bem como a ligar correctamente o vinho à comida.

Também na região alentejana, mas no concelho de Beja, está a Herdade dos Grous. Dedicada à produção agrícola e vinícola, e complementada por uma forte componente turística e gastronómica, a herdade tem 536 Ha e está dividida em diferentes áreas de exploração agrícola, das quais se destaca a vinha com 75 Ha. A agropecuária, com 220 Ha, tem prados para bovinos, ovinos e suínos, e existe ainda uma área de 7,5 Ha para produção hortícola, com um pomar de frutos. A barragem, com cerca de 98 Ha, está no meio da herdade e é utilizada para rega das várias culturas e para fins turísticos.

Segundo Marita Barth, o lema da Herdade dos Grous é procurar que os hóspedes se sintam em casa “e para isso oferecemos um serviço de qualidade com um toque familiar”. Tendo aberto as postas ao mercado em Setembro de 2005, a herdade tem vindo a apostar sobretudo na
Herdade dos Grous
promoção boca a boca e alguma publicidade dirigida. E tem sido visitada por várias faixas etárias e mercados. “No entanto, podemos salientar os golfistas que nos visitam do Algarve, turistas a passar férias no Algarve e que gostam de diversificar as suas férias de sol, mar e praia com um dia no campo. Da região de Lisboa visitam-nos as pessoas que desejam viver um momento de paz longe da rotina diária. E não podemos esquecer as pessoas que provam o nosso vinho e têm curiosidade de conhecer as condições onde os vinhos são elaborados e estagiados”, pormenoriza a responsável. Além disso, a Herdade dos Grous tem ainda a componente empresarial, de empresas que procuram o espaço para realizarem reuniões de trabalho.

Ainda no Alentejo, a 25 Km da Barragem do Alqueva, fica a Herdade do Meio, onde se produzem actualmente dois dos mais reconhecidos produtos tradicionais da região: o vinho e o porco preto. A propriedade tem 69 Ha, dos quais 25 Ha de vinha, aos quais se juntam mais 128 Ha em que a exploração, controlo de qualidade e manutenção é feita pelos técnicos da herdade. As previsões apontam para que em 2007 sejam vinificados 1,8 milhões de quilos de uvas.

Os vinhos são produzidos a partir de uma criteriosa selecção das melhores castas nacionais e internacionais plantadas no Alentejo, garante
Adega de Cantanhede
Helena Dionísio, respeitando o equilíbrio entre a tradição e as mais recentes técnicas de produção. “Para melhor entender o que lhe digo, todas as nossas uvas são apanhadas à mão e sempre escolhidas manualmente numa mesa de escolha antes de entrarem para os lagares ou cubas. Com o intuito de dinamizar a produção e garantir a qualidade, optámos por uma máquina francesa, a TRIBEI, que nos permite escolher 10 toneladas de uva/hora. A triagem é feita bago a bago, separando os bagos por métodos físicos em 3 qualidades distintas”, explica.

Os aromas e sabores da Bairrada

Do sul a viagem vinícola estende-se à Bairrada, onde se encontra a Adega Cooperativa de Cantanhede, fundada em 1954. A produção anual aqui varia entre os nove e os 10 milhões de quilos de uvas, numa área total de vinha de 1.123 Ha. Os seus vinhos são conhecidos a nível nacional e internacional, sendo exportados para mercados como o Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, EUA, Suíça, Bélgica, Holanda, entre muitos outros países.

Por cá é visitada por jornalistas, enólogos, clientes nacionais e dos mais diversos mercados de exportação, turistas nacionais e estrangeiros, desde as camadas mais jovens até ao turismo sénior.

Com uma vasta produção de vinhos, a marca que projectou a Adega Cooperativa de Cantanhede desde a década de 90, cá dentro e lá fora, foi a Marquês de Marialva, que tem ganho vários prémios em ouro. O vinho tinto Marquês de Marialva Baga 1995, por exemplo, venceu a Medalha de Ouro em Bordéus, em 1997.

Motivos não lhe faltam pois para visitar as adegas e herdades vitivinícolas que se espalham pelo país. E onde pode saborear os verdes, brancos e tintos, acompanhados de um bom petisco regional.

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